Quando eu falo com você, eu falo com você
Um simples e breve conto compartilhado pelo amigo Jorge Stolkiner:
Certa vez um discípulo pede a um famoso mestre que permita morar com ele pois deseja profundamente aprender sua sabedoria. Depois de dois anos de convivência dirige-se mais uma vez ao sábio dizendo:
“Mestre estou partindo pois vejo que o senhor é uma pessoa perfeitamente normal, não há nada de fato que eu possa aprender nesta convivência”.
Responde então o mestre: “Pena que você não percebeu…”
“O que mestre”? pergunta o discípulo.
“Não percebeu que quando eu como, eu como. Quando eu durmo, eu durmo. Quando falo com você, eu falo com você…”
Um jovem cortava alface
Quanto de mente/coração colocamos em cada coisa simples que fazemos?
Sei de um fato em uma comunidade cristã:
Um operário, homem simples, cortava o alface em tiras para servi-lo ao almoço. Um amigo intelectual, ao chegar fica profundamente impactado. Para, contempla e percebe algo de profundamente nobre naquela ação que mais parecia um rito da mais elevada religiosidade. Havia algo de muitíssimo diferenciado naquela atitude de preparar o almoço. Nitidamente não havia absolutamente nada mais importante e significativo para aquele jovem operário, naquele momento. O intelectual então rendeu-se à evidência incontestável da magnífica transcendência.
Jesus
O menino que nasceu no Natal, quando já adulto dizia: “Olhai as aves do céu… Olhai os lírios dos campos…” Mais ainda: “…a cada dia basta o seu cuidado…” e “…o pão nosso de cada dia nos dai hoje…”.
Este é o dia que o Senhor fez para nós…
Há um texto bíblico, no salmo 117 ou 118 (A depender se é uma versão Católica ou Evangélica) verso 24, que é muito repetido na liturgia pascal católica e que sempre me emociona: “Este é o dia que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e nele exultemos!” Estando em 1978 na região italiana da Toscana, época de páscoa, primavera encantadora com muita luz solar mas ainda sem calor, explosão de vida em toda a natureza… A contemplação deste versículo dava a cada dia um significado único, um entusiasmo renovado. Algo de profundamente encantador.
Abertura da Percepção
Então se Natal é a Vivência da encarnação do Verbo. “…e o mundo que estava em trevas, viu uma Grande Luz…”. Então Natal é Presente. É o nascer mais uma vez para a luminosa percepção do encanto da existência. Beleza sempre exposta mas que para ser percebida requer Luz, requer Presença.
O Apego Cega
Tudo mais é loucura. Loucura em forma de apegos a passados dolorosos ou felizes, a ilusões que projetam compensações para o futuro. Apegos que constroem medos de perder, medos de arriscar, medos de relaxar, de contemplar… de viver.
Dicas para cultivo da Presença
A percepção de nossos pés
Uma boa dica para a saúde é percebermos nossos pés enquanto caminhamos. Como estamos pisando ao chão? Que sensações sinto em meus pés enquanto caminho?
Percepção da postura corporal
Mas também, enquanto caminhamos, percebermos nossa postura corporal. Minha cabeça está alinhada com o corpo? Ou está pendendo para frente ou recuada para trás???
Percepção da respiração
E minha respiração como está agora? lenta? Acelerada? Profunda? Superficial??? Minha barriga se move enquanto respiro?
Percepção da expressão facial
Como está meu rosto, tenso como a expressar uma eterna e crônica preocupação? Ou leve como o de uma criança encantada?
Percepção das pessoas
E as pessoas que me cercam, consigo ver a beleza imensa de cada um?
Percepção da qualidade da ação
E meu trabalho deste momento está bem feito? Que emoção estou colocando nesta minha ação de agora? Estou apressado, com sono, tenso, com raiva? Ou atento, tranquilo, feliz??? Presença é percepção. Ausência de Presença é cegueira.
Na viagem da Vida
Lembro agora da belíssima Chiara Lubich, escritora mística contemporânea: “…Ao viajarmos de trem, o caminhar para frente e para trás pelo vagão, não nos fará chegar mais rápido ao destino…”
Estamos em uma Viagem de fato. Mas o portal para a Vida é a Presença Amorosa, lembrando que o Amor só acontece agora.
Feliz Presença
Feliz Natal,
Feliz Presente,
Feliz Presença!
E somente serei um presente de Natal para alguém, na proporção que eu estiver Presente com ele(a).