Precauções necessárias

Vamos refletir com calma sobre uma resposta que seja de fato útil.
Lembro-me de imediato de duas situações.

Máscaras de oxigênio em aviões

Estando em uma viagem de avião com uma criança pequena a meu lado, em caso de despressurização da aeronave, quando as máscaras de oxigênio caírem à minha frente, o que faço? Coloco a máscara primeiro na criança a meu lado ou em mim???
Então qual é sua resposta???
A orientação é de que a pessoa mais velha coloque primeiro a máscara em si mesma. E por que? Você sabe?
Pelo simples fato de que estando em segurança esta pessoa poderá então cuidar do outro mais vulnerável. Lembrando que o inverso não seria possível pois uma criança poderia não ter a iniciativa de ajudar um adulto passando mal.

Salvamento em afogamento

Segunda situação: Em caso de afogamentos como salvar uma pessoa? Há aqui uma questão fundamental. O salvador precisará segurar o outro por trás de maneira que a vítima não tenha como agarrá-lo com as próprias mãos.Isso porque no desespero o que está já com falta de ar e engolindo muita água, não terá como administrar os próprios movimentos e agarrará qualquer coisa ou qualquer pessoa, com uma enorme força, levando ambos à morte. Neste caso o que veio salvar não conseguirá se desvencilhar do afogado e teremos então duas vítimas.

Buscando ajuda para ajudar um amigo

Vamos agora aplicar estas duas situações acima à sua pergunta.
Primeira idéia: Só consigo ajudar alguém, se eu estiver bem e tiver forças suficientes. Todos nós temos conflitos, tristezas, frustrações, decepções etc… Precisaremos avaliar então se este contato com o amigo deprimido esteja ou não, acentuando em mim todos estes sofrimentos que já carrego comigo.Você pode ter como parâmetro inclusive, o seu rendimento escolar. Como estão seus estudos enquanto tenta ajudar ao amigo?
Muitas vezes então será mais prudente e eficaz, que você busque a ajuda de outras pessoas mais maduras, mais fortes. Pode também funcionar, a ajuda de um grupo de jovens, compartilhando então com outros amigos o desejo e a iniciativa de ajudar a aquele que tem depressão.

Na dúvida, não ultrapasse

Há uma importante expressão referente ao dirigir nas estradas:”na dúvida, não ultrapasse”. Portanto a iniciativa de pedir ajuda deve ser preventiva, antes que o problema se crie também em você. A sua dúvida quanto a sua capacidade de ajudar efetivamente já será um indicativo da necessidade de pedido de ajuda.

Como ajudar seu amigo

Acompanhamento psiquiátrico

Seu amigo deprimido deverá ser acompanhado por um médico psiquiatra. A medicação ajuda muitíssimo. Mas somente o psiquiatra poderá avaliar se é o caso de intervenção medicamentosa e qual medicamento a ser utilizado. Ele fará ainda o cuidadoso acompanhamento da utilização do remédio, avaliando os efeitos e fazendo eventuais modificações às vezes necessárias e até fundamentais.

Esse acompanhamento deve ser levado muito a sério e somente este médico poderá adequadamente orientar o processo de “desmame”, fase em que o paciente começa a diminuir progressivamente, de maneira planejada, o uso da medicação.

Precisamos lembrar também que este acompanhamento gera um vínculo de duas pessoas humanas com todo imenso significado que isso comporta. Este fenômeno também adquire, muitas vezes uma importância com resultados na saúde do paciente. Portanto a troca do médico e o encerramento do tratamento, devem ser questões levadas muito a sério e programadas em diálogo com o paciente e com o médico.

Acompanhamento psicológico

É muito importante também que ele seja acompanhado por um psicólogo ou psicóloga. Estes profissionais saberão compreender as causas e o contexto do fenômeno e intervir adequadamente.

Diferentemente do psiquiatra, dedicarão mais tempo ao paciente e terão encontros com maior frequência. Disponibilizarão a valiosíssima escuta, tão necessária para que a angústia possa ser “drenada” através da fala, do choro e das expressões de agressividade. O seu amigo poderá então desenvolver um vínculo profundo com este profissional, que lhe servirá de apoio psicológico tendo como consequência a sensação de alívio e segurança. Assim seu amigo poderá ir mudando a sua percepção da própria vida na direção de uma visão mais realista. Ainda poderá se sentir mais fortalecido para lidar melhor com seus relacionamentos na família e na escola.

O profissional de psicologia, dado ao tempo disponibilizado e ao método utilizado, geralmente adquire na alma do paciente, uma importância e significações ainda maiores que a do psiquiatra. Dai todo o cuidado é necessário quanto ao respeito por este fenômeno que implica em manter o trabalho enquanto necessário e cumprir um cuidadoso processo de encerramento progressivo no momento oportuno. Este encerramento envolve uma sequência de em torno de três sessões. Chamamos de sessão este encontro que geralmente é semanal.

A ajuda dos amigos

Mas o que podem fazer os amigos?
O deprimido precisa se expressar. Ele sente uma profunda dificuldade, uma limitação neste sentido. Portanto ajuda muito quando os amigos permitem e até estimulam tal expressão. Expressão do que?

Expressão da agressividade

Geralmente o deprimido trás dentro de si muita raiva contida. Na verdade a agressividade que estaria a serviço do instinto de sobrevivência, está de fato revertida contra si mesmo. Então qualquer expressão de raiva é bem vinda. Compreendendo que na proporção que ele possa expressá-la em ambiente seguro, ele se tornará de fato uma pessoa menos agressiva pois estará despressurizando a violência que já está contida dentro dele.

Muitas vezes poderão se queixar dos pais e nestes casos a orientação é de que se escute permitindo que ele expresse, ouvindo-o e até estimulando para que continue. Muitas vezes acontece que depois de uma “descarga” agressiva, a própria pessoa redimensione a compreensão da realidade e chegue a concluir com palavras do tipo: ” Mas eles até que são bons para mim…”. De qualquer maneira é necessário que se tenha cuidado para que ele não transforme esta expressão em agressão real às pessoas dos pais, ou a outras pessoas. Para isso esta escuta requer tempo.

Caso ele mesmo timidamente, expresse raiva de professores, de juízes de futebol, de políticos ou mesmo de personagens de filmes, etc… isso pode ser muito bom e pode até ser compartilhado pelo grupo de amigos, como uma brincadeira de botar para fora o estresse. E quanto mais distante de sua realidade esta figura odiada for, melhor. Por exemplo, havendo raiva de um personagem fictício de um filme o grupo de amigo até pode participar de uma expressão compartilhada, como uma brincadeira que o ajude a colocar para fora esta energia agressiva, de maneira segura.

Expressão da tristeza

A expressão da tristeza, que muitas vezes vem junto com a raiva, é também importantíssima. Chorar faz bem e aquela expressão : “não chore”, muitas vezes não ajuda ou até dificulta. A pessoa que chora muitas vezes sente um grande alívio, libera a respiração …etc…

Prática esportiva

A prática de esportes ajuda muito por vários motivos:
É uma oportunidade para expressão de agressividade com gritos e confrontos.
É uma ocasião de convívio com colegas e amigos ajudando assim a satisfazer a necessidade de contato humano, já que o deprimido tende muitas vezes ao isolamento.
Produz estimulação de todo o corpo vitalizando-o através inclusive da produção de hormônios da alegria e bem-estar.
Ajuda muito no equilíbrio entre emoção e razão já que estimulando todo o corpo, os dois hemisférios cerebrais (o emocional e o racional) serão mobilizados tendendo a esta harmonia entre estas duas polaridades.

Concluindo

Portanto o que seu amigo precisa: Acompanhamento profissional, contato com pessoas, expressão (fala, choro, raiva…), atividade física, banho de sol…

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